domingo, 27 de fevereiro de 2011

Um pouco de leitura


                                       A CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TORRES



Na foto em destaque a Igreja Matriz de São Domingos das Torres.

             O município de Torres criado em 21 de maio de 1878, num gabinete liberal, extinto em 1887, num gabinete conservador, foi recriado no início de 1890, logo após a Proclamação da República.
No curto espaço de tempo de sua primeira existência, depois de vibrante campanha, Torres aboliu a escravidão negra no município, mais exatamente em 1884, ano da instalação do município de Araranguá-SC, criado em 1880.
Na mesma época aconteceu o surgimento de uma prolongada e polêmica contenda limítrofe, na qual Torres, e por conseqüência, o Estado do Rio Grande do Sul, perdeu parte do seu território, em decisão que contrariou a maioria dos estudos realizados, inclusive do Estado de Santa Catarina, e que levaram em consideração, principalmente, o critério geográfico.
Na década de 1930 Dante de Laytano, o pioneiro no estudo de Torres, em alentada monografia, publicada e republicada, abordou o litígio dos limites antes mencionado. Ruy Rubens Ruschel, na década de 1990, em despretensiosa e curiosa crônica, para quem é, justamente, considerado o maior e mais importante estudioso da geografia e história Torrense, também aborda o assunto.
Estes dois principais estudiosos dos assuntos Torrenses, que inclusive mencionam, rapidamente, é verdade, o episódio da prematura abolição no município, não mencionam as razões da extinção do município.
Em pleno século XXI, aos 126 anos da emancipação política, considerando a de 1878, é razoável aventar a possibilidade de que a estranha extinção, 1887, está relacionada à prematura abolição da escravatura e ao lamentável litígio dos limites de Torres-RS/ Araranguá-SC.



 Colaboração: JBS, batizado, crismado, registrado e vacinado em Torres, onde concluiu o curso primário, no então Grupo Escolar Marcilio Dias, e o curso ginasial, no então Ginásio São Domingos. Fez o curso clássico em P.A., S. Maria e Canoas-RS. Concluiu, na década de 1970, o Curso de Ciências Jurídicas e Sociais (Direito) na PUC-RS, em P.A., onde também fez curso de Aperfeiçoamento, Extensão e Formação, na hoje Academia de Polícia e UFRGS. Agnóstico e aposentado, atualmente dedica-se, “parkisionamente” para o gasto, para consumo próprio, à análise e crítica da história local e da filosofia do conhecimento, especialmente Filosofia da Ciência.


                              

                              Um logradouro, uma história
(A Rua de “Baixo”, a atual Júlio de Castilhos)

Rua de Baixo (Rua de nº01)
  
 Segundo a história de Torres pode ser afirmado que antes de 2004 a.C., o atual logradouro Júlio de Castilhos, já era um local freqüentado por pessoas. Informa o pesquisador Rui Ruben Rushel, que nas imediações dos locais onde hoje estão estabelecidos os bancos HSBC e Bradesco, foram encontrados sinais característicos de sítios arqueológicos. Este estudioso, o maior e mais importante da Grande Torres, informa, corajosamente e perigosamente, do ponto de vista acadêmico, que um povo aparentado com o Homem da Lagoa Santa – MG, vindo da Austrália, via Antártica, penetrou na América do Sul milênios antes do Homem de Nazaré ter dado seu RECADO. É o que ele chama de homem do sambaqui.
No mínimo uns três milênios depois, quem sabe 1004 d.C., um povo diferente (Tupi-Carijó), que segundo um livro da história de Araranguá, eram claros, de olhos claros, de cabelos claros, afastou os descendentes do homem de sambaqui (Tapuia-Bugre), e o logradouro que por muito tempo foi conhecido como a “Rua de Baixo”, passou a ser um “Caminho do Carijó”. Seriam estes carijó aparentados com europeus do norte? Existem indícios de que escandinavos não só chegaram a América do Norte, como também chegaram na América do Sul, inclusive muito abaixo da Linha do Equador.
Há alguns séculos depois, 1504, aproximadamente, as pessoas que dominaram o Caminho do Carijó iniciaram relações com europeus do sul, especialmente ibéricos.
Há 200 anos, 1804, Manuel Ferreira Porto, um ibérico considerado por Rushel, acertadamente como o primeiro fundador de Torres, fixou-se a poucos metros do “Caminho do Carijó”, então um povo extinto a mais de um século.
Em 1814 nasce o penúltimo filho de Manuel Ferreira Porto. Dois anos depois Torres tinha somente duas casas, uma delas Rui Ruben Rushel aventa a possibilidade de que estivesse localizadas no “Caminho do Carijó”, a futura e bucólica “Rua De Baixo”, atual Júlio de Castilhos.
Data de 1824, a então pequena Capela de São Domingos, construída, perto da casa do primeiro fundador, de frente para o “Caminho do Carijó”. Entre 1824 e 1834 deve datar a primeira imagem de Torres, uma aquarela atribuída ao pintor francês Jean-Batise Debret. A dois outros franceses, Auguste de Saint Heilaire antes, e Nicolas Dreys, depois de 1824, podem ser atribuídas as duas descrições mais detalhadas de Torres. Nesta época, além destes franceses ilustres, outras pessoas de prestígio e notoriedade passaram pelo, ou perto do “Caminho do Carijó”: entre elas  o imperador Dom Pedro I (em 1826, por duas vezes), o general farrapos Bento Gonçalves da Silva e David Canabarro (por duas oportunidades, no mínimo) e até Guisepe Garibaldi e sua Anita (todos por volta de 1840). Entre 1844 e 1854 passou também o imperador Dom Pedro II.
Em 1864 ainda havia, segundo Ruy Ruben Ruschel, um resto de mata atlântica entre a Lagoa da Vila e o Morro do Farol. No interior desta mata, na altura do que é hoje a esquina da Rua Padre Lamônaco com a Rua Cruzeiro do Sul, bem próximo de um enorme sítio arqueológico existente, no Caminho do Carijó, do qual saiu a Coleção Balduíno Luis de Freitas, guardada no Museu Nacional, no interior desta mata a comunidade torrense teria construído um cemitério que ai funcionava em 1884, ano da chegada de José Lamônaco e da prematura abolição da escravidão negra no município, emancipado, pela primeira vez, seis anos antes. Segundo informa Ruschel este resto de mata ainda existia bem próximo do final do século XIX e início do século XX, quando o dito cemitério foi soterrado pelas areias, que alguns chamam cemitério antigo, outros de índio e o médico João Aires da Silva, conhecedor da história e, principalmente, geografia da região, conhece por cemitério dos degolados, pois na realidade o local era um matadouro de maragatos.
Bernadino Senna Campos, telegrafista das forças republicanas, dois mil homens, estacionados em Torres em 1894, descreve a então Vila São Domingos como pobríssima e de uma Rua Só, o Caminho do Carijó. Neste mesmo ano o maragato José Rodrigues da Silva, cruelmente executado, foi enterrado, às pressas, entre a lagoa e o morro, por um parente chamado MANECA PORTO, portanto no mínimo próximo do chamado “cemitério dos degolados”, e do “Caminho do Carijó”, quatro anos após sua segunda emancipação (1890). Neste mesmo ano, 1894, MANOEL DE LIMA PORTO foi prefeito (intendente) por alguns meses. Também no mesmo ano, 1894, as forças republicanas fuzilaram no mínimo dois desertores, os quais, Ruy Ruben Ruschel, em duas crônicas escritas mais de cem anos depois, como tendo ocorrido no portão do cemitério existente no alto do Morro do Farol, onde hoje é o estacionamento, contraditoriamente, pois nesta época o cemitério estaria no meio do resto da mata atlântica, abaixo do mesmo monte se prevalecer a informação anterior.
Dez anos depois, 1904, quando João Pacheco de Freitas terminava o primeiro e iniciava o segundo mandato de intendente, o “Caminho do Carijó” continuava uma vila pobríssima de uma rua só. No ano anterior João Pacheco de Freitas manuscritou hoje valiosíssima “ESTATÍSTICA”, que se encontra na Casa de Cultura, e que os pesquisadores de Torres, estranhamente ignoram.
Em 1914, quando o intendente (prefeito) não era, formalmente, João Pacheco de Freitas, o “Caminho do Carijó”, “a Rua de Baixo”, agora, oficialmente Rua Júlio de Castilhos, além da invasão das areias, que chegou até a Intendência, era agitada pela passagem de um padre espírita, José Silva, e a presença do “Falado Homem Seco” na igreja São Domingos. Nesta época a procissão do Senhor Morto (o corpo de Cristo fora da cruz), fazia um trajeto que percorria, ida e volta, da igreja São Domingos ao “CRUZEIRO” existente entre a “Rua de Cima” e a “Rua de Baixo”, proximidades do atual Torres Hotel e À Furninha.
Com a chegada do empreendimento “PICCORAL”, no atual edifício SAPT, Grande Hotel Torres, a cruz de madeira existente no local foi removida para o lado norte da Igreja São Domingos, conforme aparece num postal, não posterior a 1924, ano em que o grupo escolar Vila de Torres, estava instalado no sobrado do Padre, ou da “Picucha” filha do padre, localizado na “Rua de Baixo” (Itália Shopping).
Em 1934, quando Torres já havia desistido de transformar o “Caminho do Carijó” em porto marítimo e João Pacheco de Freitas já não era mais o dirigente máximo do município e o grupo escolar Vila de Torres já estava instalado próximo da igreja São  Domingos, em cujo interior, em um caixão preto descansava o corpo do “Homem Seco” conforme firme e abalizado testemunho do Sr. Hernani, filho do Rocha construtor, e do Sr. Eurico, filho do barbeiro Breal.
No ano de 1944, na “Rua de Baixo”, além do “Seco” falava-se ainda do Submarino Nazista, que não poderia ser baleia, pois não esse animal não usa roupa no convés, e nem fica “paradinho” em cima da água. Também se falava até quando teria que se usar “salvo conduto” e se iria acabar a “sarga”, ou se continuaria a exportação de “bacalhau” para a Alemanha. Nesta época andou faltando sal em toda a região, até mesmo no Arroio do Sal.
Em 1954, quando Krishnamurti, com um monumental prefácio de Aldous Huxley publicou a “Primeira e Última Liberdade”, e David Bohn, físico quântico de vanguarda, lecionava na USP, começou a funcionar em Torres o então Ginásio São Domingos, que depois de passar pelo então Grupo Estadual Marcílio e pelo hospital Nossa Senhora dos Navegantes, fixou-se definitivamente, em 1958, onde está até hoje, a então “Rua de Baixo”, o “Caminho do Carijó”.
Os Ginásios São Domingos, 1964, em razão do funcionamento do curso Normal, iniciado em 1962, denominava-se Educandário São Domingos, o “Caminho do Carijó” começava a mudar definitivamente dez anos depois, 1974.
Em 1984, ano do centenário da prematura abolição da escravatura em Torres e do centenário da chegada do Padre Lamônaco na cidade do “Homem Seco”, Ruy Ruben Ruschel publicou seu primeiro livro sobre Torres: “São Domingos das Torres”, sem nada mencionar sobre a Revolução Federalista e os restos mortais do Padre Lamônaco, que construiu um belo sobrado na “Rua de Baixo”, o sobrado do Padre ou da “Picucha”, a mesma da lomba, ou do Generino, ou dos Velhacos.
Em 1994, centenário do auge da Revolução Federalista, do quadragésimo ano das atividades da Escola São Domingos, apesar da “Casa da Terra”, hoje “Casa da Cultura”, a “Rua de Baixo” a mais antiga, sem contar os tempos de domínio Tapuia e Tupi, rumavam célere em direção a sua completa descaracterização, o que adentrou no século XXI.
Foi somente depois que Escola São Domingos iniciou as comemorações de seu cinqüentenário mais ou menos quando o ciclone Catarina sacudiu a região um grupo de pessoas pensou num JULHO NA JÚLIO, na “Rua de baixo”, para através de um plano F.A.C.I.L. (Festival Artístico Cultural Intelectual Livre) transforma-la, quem sabe num “Caminho do Carijó”, ou melhor ainda, numa TRILHA TAPUIA TUPI TORRENSE (“TRI TA TU TO”).


Colaboração: João Barcelos da Silva.

Um comentário:

  1. Eu mesma digitei para meu pai estas "mau traçadas linhas" [como ele dizia]. Foi feita inteiramente das suas ideias e expressões. estão no seu blog: http://joaobarceloss.blogspot.com.br/

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